Combinei com uma colega de que, naquele domingo pela manhã, passaria em sua casa, para juntos, irmos assistir uma palestra espírita no Abrigo Espírita Batista de Carvalho.
O palestrante naquela manhã, era o nobre e brilhante colega cristão, Aristeu Bezerra; o qual, abordou o tema sobre o medo da morte, com o título "Partidas e Chegadas". A abordagem foi por demais interessante. A assistência amiga e fraterna interagiu, tornando a palestra em debate aberto.
Ao término, me despedi de vários colegas de doutrina espírita e juntamente com minha colega, ganhamos as ruas, em direção a sua casa. Ao dobrar a primeira esquina, lá estavam alguns colegas fazendo e praticando a Campanha do Quilo. Nesta rua, salvo melhor juízo, estavam três legionários: Vicente o líder dos trabalhos da Campanha do Quilo, nesta instituição, Allan, um garoto que gostaria de recebê-lo como meu filho na próxima encarnação e Rejane, pessoa muito querida em nossa instituição.
Eu e minha amiga, somos adeptos da Campanha do Quilo, já lideramos estes trabalhos, nesta mesma instituição. Acredito já ter realizado aproximadamente quase mil Campanhas do Quilo. Esta minha amiga, já ultrapassou este número. São mais de vinte anos na doutrina espírita e nesta tarefa.
Pois bem, olhei para os legionários, olhei para minha amiga e disse: Interessante eu acho que me lembro desta galera do saco branco. Mas, não sei de onde! Os legionários me olharam e ficaram todos sorrindo e nós continuamos andando; eu e minha amiga, em direção a casa desta.
Chegando na casa de minha amiga me despedi e fui para minha residência, mergulhado em meus pensamentos, sobre os trabalhos da Campanha do Quilo.
De repente me veio uma vontade de escrever algo sobre a Campanha do Quilo. Alguma "coisa" como se fosse uma peça teatral. Lembrei-me de Aristeu Bezerra, o palestrante deste domingo, suas mensagens. Depois, lembrei-me de Marcão, um colega espírita, ator e diretor de peças teatrais espíritas. Juntei as ideias que estavam surgindo. Cheguei em casa, peguei caneta e papel e comecei a escrever a peça teatral, conforme se segue:
"Era manhã de um lindo domingo de sol! Estava caminhando com uma colega, em uma das tantas ruas do Bairro de Jardim São Paulo.
Ao passar em determinado trecho da rua, observei algumas pessoas executando uma atividade que consistia em pedir esmolas, de casa em casa.
Carregavam dois sacos grandes, de tecido, de cor branca. Aqueles sacos de transportar açúcar. Eles tinham uma alça que, passava nos braços, na altura dos ombros. Deixando-os pendurados ao lado do pedinte; onde era colocado as esmolas recebidas. Havia mais dois sacos menores, também na cor branca. De um destes sacos menores, os pedintes tiravam uma mensagem e as doavam as pessoas com quem se encontravam nas ruas. Bem como, também doavam estas mensagens as pessoas em suas casas que os atendiam doando-lhes esmolas. Aliás, as mensagens eram doadas as pessoas, independentemente de terem doado a esmola
Neste mesmo saco das mensagens, era posto o dinheiro doado pelo povo.
Ainda um outro saco, do tamanho deste, na mesma cor; estava fixado na cintura dos pedintes.
Achei ridículo aquele trabalho! Aquelas pessoas, pareciam que não tinham outra "coisa" mais importante para fazer. Em plena manhã de domingo, de sol. As pessoas em suas casas, dormindo ou querendo dormir. Repousando, sendo incomodadas. Por pessoas batendo palmas em suas portas, tocando as campainhas; anunciando a Campanha do Quilo! Pode?
Ninguém merece?
Após cruzar com este grupo de pedintes, comentei com a colega:
- Será que estas pessoas não têm algo mais importante para fazer do que incomodar as pessoas, nas ruas e em suas casas. Acordando-as para pedir esmolas, em pleno dia de domingo. Dia de repouso, de descanso? Quem são eles?
A colega, com bastante calma e equilíbrio respondeu-me:
- Amigo, estas pessoas são trabalhadores de Jesus!
- Cada uma destas pessoas, têm suas atividades profissionais, familiares e religiosas. E como se não bastasse tudo isto, ainda assim, estão preocupadas com o nosso próximo. Quer as pessoas que estão sendo visitadas em suas casas. Quer as pessoas que estão transitando nas ruas. E ainda, outros grupos de pessoas; as quais, estão no anonimato.
- São pessoas internas, em abrigos, creches, orfanatos, ... Pessoas carentes do auxilio , quer material ou moral. Pois bem, o resultado deste trabalho, beneficia as pessoas internas, nestas instituições.
- Existe ainda, um outro grupo maior de pessoas que, trata-se de pessoas pobres, carentes; as quais, cadastradas e selecionadas em instituições espíritas, na segunda feira pela manhã; aí comparecem, logo cedinho. Tomam o café da manhã. Assistem uma palestra, sobre o evangelho de Jesus, malhando o espírito. E ao término da palestra, retornam aos seus lares, levando consigo, uma pequena cesta básica, chamada carinhosamente de "farnel". Produtos estes, arrecadados pelos pedintes que você os está criticando.
- Estes pedintes, são chamados de legionários da Campanha do Quilo. E este trabalho de pedir esmolas, é chamado de Campanha do Quilo. Este trabalho foi criado e instalado em Pernambuco pelo nobre e brilhante irmão Elias Sobreira, já falecido, desencarnado.
- Estes legionários se preparam antecipadamente, para a realização desta obra, aos domingos.
- Antes de saírem as ruas; eles assistem uma palestra sobre o evangelho de Jesus e debatem entre eles, sobre as Leis Divinas. Em seguida, é organizado os grupos de legionários.
- Cada domingo, a Campanha do Quilo é realizada em um bairro diferente. Na instituição, a primeira parte do trabalho se inicia às 08:00 horas e términa às 08:50 horas. Em seguida, às 09:00 horas, os grupos de legionários ganham as ruas para a realização dos trabalhos da Campanha do Quilo; os quais, se encerram precisamente às 11:00 horas. É preciso focar-se bem no trabalho que se está realizando. É o orai e vigiai, para que tudo ocorra em paz!
- É que, durante o percurso, os legionários podem encontrar pessoas que rejeitam estes trabalhos e partem para o debate desequilibrado, as vezes até para o xingamento. Admoestando os legionários.
- Então, o legionário precisa de todo o equilíbrio, para não entrar nesta sitônia. No debate e no xingamento.
Fiquei desapontado. E confessei a minha colega de que, desconhecia os benefícios daquele trabalho e sua importância para a sociedade; principalmente para as pessoas carentes.
Minha colega, acudiu e acrescentou:
- Além das pessoas internas ( crianças, idosos, ... ); bem como, aquelas pessoas que recebem o farnel. Tantas outras pessoas são beneficiadas; o próprio legionário, as pessoas nas ruas ou em suas casas.
- A Campanha do Quilo é uma prece ambulante. São 3 (três) horas de oração. Uma hora de debates sobre o evangelho de Jesus na instituição e 2 (duas) horas nas ruas, solicitando o óbulo (a esmola), entregando as mensagens, abençoando as pessoas e orando, ...
- Ao bater palmas, diante das casas e solicitar a esmola. Enquanto o legionário aguarda a presença de alguém para atendê-lo; após anunciar a Campanha do Quilo. Ele aguarda em silêncio, em prece. Orando pelas pessoas que habitam aquela casa. Ao receber ou não o óbulo, a esmola; o legionário agradece e pede a Deus, a Jesus suas bençãos bondosas e infinitas para a pessoa que lhe atendeu e seus familiares. Esta pessoa que atendeu ao legionário, da mesma forma, a pessoa que atendeu o legionário agradece e pede a Deus e a Jesus que abençoe o legionário da Campanha do Quilo.
- Em alguns lares, antes da visita do legionário; este lar encontrava-se em desordem, em desequilíbrio. As pessoas que ali habitam, estavam em desarmonia. Em litigio. Pessoas brigadas umas com as outras dentro de casa. E logo após a visita dos legionários da Campanha do Quilo, este lar voltou a normalidade. A paz se fez presente no ambiente familiar e nos corações daqueles que ali habitam. As bençãos do Cristo de Deus, tocou estes irmãos e a paz, ali fez sua morada.
- Pois bem, as pessoas nas ruas e nas casas, também, são beneficiadas com este trabalho. Naquele instante, os legionários são instrumentos divinos, levando a população as bençãos de Deus. Restabelecendo a paz, a harmonia e o equilíbrio entre todos.
- Os legionários, os pedintes, também são beneficiados com este trabalho. Pois, estão se doando em nome de Jesus! Deixaram seus lares, seus familiares, seus amigos, seus passeios, seus lazeres. O futebol, o barzinho, outras atividades, ... Para servirem na obra de Jesus! Neste trabalho, o primeiro beneficiado é o legionário, o pedinte. Enquanto ele pede as bençãos de Deus e de Jesus para as pessoas; estas, também pedem o mesmo para ele legionário. São duas horas nas ruas, doando e recebendo bençãos divinas.
- As pessoas nas ruas e nas casas, recebem os legionários com prazer, com alegria, com satisfação e emoção, ... São as bençãos do Cristo de Deus que bate em suas portas, logo cedinho neste domingo de sol.
- Estas pessoas já conhecem este trabalho e sabem da sua importância para todos!
- Independentemente das pessoas doarem a esmola, o óbulo ou não. Os legionários as abençoa em nome de Jesus. Doando-lhes uma mensagem de fé, esperança e amor.
- Como esmola, os legionários recebem muitas bençãos, muitos sorrisos alegres,... Das pessoas, quer nas ruas ou nas casas.
- Não existe alguém tão pobre que nada tenha para doar e ninguém tão rico que não precise de algo receber. Doar é questão de vontade, desprendimento. A doação pode ser material: Um pão, feijão, dinheiro, um sabonete, comida pronta, ... Pode ser também, a caridade moral: Um beijo, um abraço, um aperto de mão, um sorriso, um conselho, uma orientação, o educar, o ouvir um pranto, um problema, emprestar o ombro para alguém chorar, ... A caridade moral de ouvir alguém em desespero, pode evitar um suicídio. É muito importante parar um pouco, para atender alguém. Ouvir alguém. Orientar alguém, ...
- Um sorriso alegre é muito importante para os legionários.
- A Campanha do Quilo, é uma atividade organizada pelos Centros Espiritas que, seguem a codificação kardequiana ( Allan Kardec ) - Todo trabalho realizado é em nome de Jesus Cristo.
Olhei para minha amiga! Eu estava decepcionado comigo mesmo. Não sabia da importância daquele trabalho. Pensei mau daqueles pedintes; digo, daqueles legionários em forma de Anjos! Meu Deus! Em pleno domingo de sol, manhã, eles renunciaram a tantas coisas para servir a Jesus! E eu pensando mau deles.
- Amiga perdoe-me as criticas e indagações; fui injusto. Eu quero conhecer estes legionários, quero conhecer este trabalho. Quero servir a Jesus! Estou sentindo uma vergonha. Uma grande vergonha! Por criticar um trabalho que eu não conhecia. Critiquei sem base, sem fundamento. Sem conhecimento de causa. Estou arrependido, imensamente arrependido.
Minha amiga me consolou e falou-me um pouco sobre os ensinamentos cristãos. De tudo que ouvi, ficou gravado em minha mente que, não basta acreditar em Jesus, ter fé. Temos que trabalhar em nome Dele, Jesus. Seguir os seus ensinamentos, praticando no dia a dia. Pois a fé sem obra é morta! Jesus disse: Quando fizerdes a um destes pequeninos, é mim que o fizeste.
Após alguns meses de aprendizado na Doutrina Espírita, lá estava eu com os sacos nas costas; pedindo esmola! Muito feliz! Por ser útil a mim e a humanidade. Trabalhando em nome de Jesus!"
Muita Paz!
E. Valentin
edivaldovalentin59@hotmail.com
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